terça-feira, 29 de novembro de 2011

EU AINDA ME SURPREENDO



       Eu tinha um tema oportuno e interessante para tratar nesta postagem do Argumentu. Mas um acidente de percurso me fez protelar as linhas do referido assunto, que foi atropelado por fatos novos ocorridos hoje nas minhas andanças jornalísticas. Primeiro que o dia começou com a notícia de que eu iria até a cidade de Boa Vista, no Cariri do Estado, para mostrar que, pela terceira vez este ano, a pequena agência do Bradesco havia sido explodida por bandidos especializados em roubos a caixas eletrônicos. Parecia notícia repetida, mas com uma pequena diferença. Nesta oportunidade, os "Amigos do Ilícito" (como diria um delegado das antigas) não conseguiram levar o dinheiro. Ficou tudo destruído, menos o invólucro metálico onde as disputadas notas se encontravam. Mostramos os estragos e escutamos a população, já acostumada a se acordar de madrugada com estrondos repentinos. Pra variar, os ladrões fugiram e até agora e amanhã e depois e depois não vão ser encontrados. 

       Por um momento, minha mente retomou o impulso cidadão de pensar imediatamente o porquê dessas coisas acontecerem. Os jornalistas quase sempre sublimam isso e se preocupam primeiro em apurar e contar os fatos em detalhes e publicá-los. Até porque é isso que tem de fazer e o tempo para tal é curto. As discussões filosóficas que não façam parte da feitura da reportagem ficam para outro momento. Mas hoje foi diferente. Pensei durante todo o processo: "Porque esses caras vivem assim? Como aguentam essa vida de gato e rato com a Polícia, presídio, matar, morrer, etc...?" Por que cargas d´água não procuram outra forma de existir? Sei que muitos não estão nem aí pra nada; o que vier é lucro. Mas tive esse breve lampejo. Aconteceu. E eis que meus pensamentos sobre isso estavam só começando. Logo que voltei para Campina Grande, a Redação me liga narrando um assalto à agência dos Correios de Lagoa Seca. Aquela velha e manjada história: duas pessoas de moto, uma desce armada, rende todo mundo e leva o dinheiro. E "a Polícia ainda não tem pistas dos assaltantes". Mas eu estava redonda ou quadradamente ou absurdamente enganado. Era um caso que me deixaria perplexo, como raramente fica quem já viu quase tudo fazendo matéria. Isso porque dois personagens chamaram atenção. Primeiro a pessoa que dirigia a moto do assalto. Era uma jovem de 19 anos, de Campina. E (pasmem!) estudante do curso de Engenharia de Petróleo da UFCG. É uma das áreas mais promissoras do futuro e porque não dizer do agora, já que o Pré-Sal e outros investimentos petrolíferos no Brasil rendem bilhões e renderão muito mais. Daí depreende-se que a moça, que está em uma universidade federal, fez um vestibular e ganhou uma vaga no ensino público, sonho de muita gente. Teve OPORTUNIDADE! Eu, abestalhado: "O que é que uma infeliz dessas tá fazendo assaltando por aí?!" Detalhe: o comparsa é o irmão dela, sete anos mais velho. E agora, a pior parte: ela acusa o próprio gerente dos Correios da cidade de ter planejado o assalto. Ele teria passado, nesta e em outras vezes, as informações aos bandidos sobre a chegada do dinheiro, os horários, os valores e como seria mais fácil assaltar a agência de Lagoa Seca e de outras cidades vizinhas. Presa, encrencada e com futuro incerto (diferente de quando só estudava o petróleo), a jovem foi perguntada por um agente se faria assaltos de novo. E respondeu, na minha frente, que "depende do que ela passar na cadeia". Fiquei besta de novo! E revoltado!

      Isso me fez concluir algo que os especialistas já devem ter estudado, pensado e repensado enquanto eu nadava em outras teorias. A falta de oportunidades NÃO é responsável pela imoralidade do ser humano. Antes dizia-se que a pobreza fazia as pessoas tomarem o caminho do crime. E agora? Se no nosso país ainda não acabamos com este mal, pelo menos as coisas mudaram muito. A Indústria da Construção Civil está sem mão-de-obra. Faltam até ajudantes de pedreiro. Outras tantas áreas sofrem para contratar até para cargos de nível médio e fundamental. E aí? Alguém tente me dar uma desculpa para enveredar pelo caminho do crime. Se para mim não existia antes, agora menos ainda. O dicionário Aurélio define MORAL como o "conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada". Neste estado e neste país o que mais falta hoje é consciência. Falta Educação, faltam políticas públicas de Inclusão Social, faltam famílias que cuidem dos seus filhos. Enfim, falta MORAL, o conjunto de coisas que a mim e a muitos brasileiros honestos nos fazem viver procurando o Bem e de forma digna, única e exclusivamente com cada gota do nosso valioso suor.











terça-feira, 22 de novembro de 2011

ACENDERAM A LUZ






"Quando o gato sai, os ratos fazem a festa". Essa frase antiga da sabedoria popular traduz muito do que acontece na vida em sociedade. E aí direcionamos nossa carinhosa lembrança logo à política, tão "satisfatória" por essas bandas tupiniquins. Feita para ser a melhor ferramenta de transformação econômica e social, sempre acaba por servir mais efetivamente quando o assunto é manter os poderosos onde estão e ludibriar quem realmente trabalha e merece. Mas isso não é novidade. Entretanto, se a coisa ainda não virou para o lado correto (aliás, está longe disso), os movimentos astrais, a nova era ou sei lá o que dão mostras de que algumas mudanças estão chegando com saúde e longevidade. Já dizia Elba Ramalho no final da épica canção "Nordeste Independente", de autoria de Bráulio Tavares e Ivanildo Vila Nova: "Não pensem que vocês nos enganam, porque nosso povo não é besta". E não é mesmo! A bem da verdade, ser besta não é um dos nossos defeitos. E a prova cabal é que este país é de espertos. Alguns até demais. Antes, democracia, palavra tão mastigada nas bocas dos políticos, era só um vocábulo de dez letras. Agora está ganhando força e não pela ação dos governantes, como deveria, mas pela globalização da informação.

Hoje se você quiser "esconder o lixo embaixo do tapete" é capaz de ter uma câmera escondida por perto gravando a ação delituosa. Ou, então, cuidado com o cidadão que passa despretenciosamente com um celular na mão. Ele pode ter muitos pixels para te denunciar em ótima definição. Sem falar nas microcâmeras disfarçadas de canetas e outros objetos tão inofensivos. Gravadores de voz? Eles estão cada vez menores e mais digitais do que nunca, com uma qualidade de som incrível, o que não deixa dúvidas sobre o que realmente foi falado. E tudo isso ganhou um canal, ou melhor, vários canais revolucionários. E, desta vez, realmente democráticos. São as redes sociais. Com toda a sua potência globalizante, a integração é instantânea, imediata, sem precisar de aprovação prévia para o que vai ser divulgado. Textos, fotos, vídeos, manisfestos, poemas, tudo. E você não precisa mais nem estar diante de um computador para postar qualquer coisa que te incomoda ou te felicita. Uma foto de alguém praticando algo ilícito, uma fala contundente e denunciante. É tudo no jogo aberto e pode ser direto do celular para o mundo em segundos. Se os críticos falam que essa falta de filtro da tecnologia proporciona um certo caos, eu prefiro ficar com a teoria contrária, que assevera que a liberdade e as benesses são mais importantes para a transformação das consciências do que os possíveis transtornos.

Os primeiros bons resultados já estão aí. Volta e meia alguém tem de se explicar por algo errado e acaba tendo sua verdadeira face mostrada. No caso dos políticos, isso é um desastre. E 2012 vem aí, pessoal! Urna não é p..., como diria Faustão. Nisso ele está certo. O século 21 trará muitas mudanças. A primeira delas foi acender a luz do mundo. É como entrar numa despensa agora com uma lâmpada de mil watts. Assim, é lógico que temos a chance de ver muita sujeira que não estava ao alcance dos antigos olhos vendados; de enxergar o que antes era mais escondido do que orelha de freira. Ou, para não sair do foco, mais oculto que o dinheiro desviado pela corrupção. É a vez de sermos os gatos da história, sempre vigilantes e incansáveis. E aí, triste do rato que não encontrar mais seu buraco.










terça-feira, 15 de novembro de 2011

O FIM PODE E DEVE ESTAR PRÓXIMO



Fico me perguntando por que não virei fumante. Na minha família, muita gente fumava e ainda fuma. Meu pai fumou durante um tempo. Parou quando minha irmã, com asma, o fez escolher entre ela e o cigarro. Teve um bom motivo e muita força de vontade. Em boa parte da infância, atravessando as décadas de 80 e 90, inalei fumaça por onde vivi e andei. Mas nunca senti e impulso de colocar um cigarro na boca. Nem pelos maus exemplos ao meu lado e nem mesmo pelo fato de ter alcançado as propagandas em que o tabagismo era sinônimo de status, de gente "despojada, bem relacionada, segura de si e feliz". E também nunca parei para mensurar a importância que o vício dos outros teria na minha vida. Não fazia diferença. Eles fumavam e eu não. Somente. Entretanto, um fato mudou radicalmente minha opinião sobre o cigarro. Aos 17 anos, recebi a notícia de que meu avô materno (o único que tinha e conheci), fumante há muitos anos, estava com câncer de pulmão. Minha adolescência não me deixou medir a gravidade da situação. Até que, a cada mês que se passava, eu assistia entristecido ele definhar, emagrecer, enfraquecer. Até a voz foi embora. Vovô apenas balbuciava. Falava mais com os olhos. E um dia aquele homem - um dos seres humanos que eu mais amava e de quem nunca me esqueci - morreu esquelético, deixando uma família inteira que tinha nele uma referência, alguém que transmitia amor, distribuía sorrisos e, apesar do vício, valorizava estar vivo. Acho que não é preciso narrar a saudade e a lacuna que ficou. E depois disso eu cheguei a fumar alguns poucos cigarros para provar para mim mesmo que aquilo não tinha graça e que era uma porcaria que destruía famílias. 

Observando mais detidamente, vejo que quase todos os meus amigos também não fumam. Felizmente, nunca tivemos essa necessidade de substituir algo das nossas vidas por fumaça nos alvéolos pulmonares. E não tenho qualquer tipo de preconceito com ninguém que usa. Apenas sou a favor da Saúde. Pesquisando, vi que não é privilégio da minha turma. É um fenômeno que acontece em todo o mundo. No Brasil, a porcentagem de fumantes caiu de 34%, no auge, para  cerca de 15%, atualmente. As empresas que fabricam já não encontram, em muitos países, meios legais de fazer propagandas do cigarro. Pelo contrário. A mídia dá cada vez mais espaço à propaganda anti-fumo. Os governos se preocupam com os prejuízos causados aos Sistemas de Saúde e entram na luta contra o tabagismo. Em muitos lugares do mundo é simplesmente proibido fumar em locais públicos. Resumindo: a fumaça não é mais bem-vinda e bem vista como antes. É encarada como a fumaça que é, prejudicial e destrutiva, principalmente nas nações desenvolvidas ou que caminham para isso. O resultado é que o século 21 parece estar apresentando a execração final do cigarro pela sociedade. Se não nesta, mas na próxima ou nas décadas subsequentes.

Contudo, enquanto o futuro não chega, o problema é: o que fazer com aqueles que ainda são viciados? Os milhões de remanescentes que ainda são traídos pelas mãos que levam à boca esse assassino voraz? Políticas públicas são indispensáveis e obrigatórias. E devem acontecer em todas as direções. É interessante também observar o esforço dos meios de comunicação, como na série "Brasil sem Cigarro", do Fantástico. É uma boa demonstração de mobilização nacional contra o vício, independente do canal de televisão. Alerta, informa, ensina e encoraja aqueles que desejam permanecer vivos por mais tempo e com mais qualidade. E talvez ajude a despertar a força de vontade de uma das minhas tias (filha do mesmo avô morto pelo câncer), para que ela possa se desvencilhar dos maços que fuma, de cada cigarro que tira preciosos 11 minutos de vida. E, assim, tenha destruída a tese dela e de muitos que dizem: "Se eu fumar, vou morrer. Se não fumar, vou morrer também". Para mim, a diferença não está em morrer, mas em não antecipar o último dia.


terça-feira, 8 de novembro de 2011

JORNALISMO À PROVA DE BALA?

Olá, pessoal!

Pensei em escrever um texto inaugural para o blog, algo como as "boas vindas". Mas quem quer ler isso? Se bem que o intuito do "Argumentu" não é arregimentar leitores assíduos para assuntos que sejam de seu interesse. Para isso existem os muitos meios de comunicação. O propósito é discutir com quantos quiserem e de forma mais intimista alguns dos temas importantes que nos cercam e modificam nosso dia-a-dia.

E aí me veio o caso do colega Gelson Domingos da Silva, sobre o qual deixei para comentar só hoje, após as devidas repercussões. Lembro que, ao escutar a notícia da morte do repórter cinematográfico da Band, eu saí assustado do banho para a frente da TV. E dei de cara com as cenas dele caído, morrendo na favela. Nesse momento, deixei de lado a proteção psicológica que nós, jornalistas, criamos para não nos abalarmos com as tantas desgraças que presenciamos. Costumamos deletar rápido das nossas mentes as atrocidades que vemos para poder prosseguir com nosso trabalho de forma mais sadia. Mas dessa vez não segurei. Chorei como se fosse um dos meus colegas e amigos com quem trabalho ou trabalhei. Imaginei um deles ali. Pessoas cujas famílias conheço e com quem divido a luta diária que é fazer Jornalismo, sorrindo, discutindo, compartilhando estresse e produzindo o melhor que podemos. Para quem ainda não sabe, nossa missão de informar, apesar de nobre na sua importância, é árdua na sua execução. Um erro compromete muita coisa. E é difícil constatar (embora já soubesse no íntimo) que Jornalismo não é à prova de bala. Nem o colete do Gelson era. 

Os jornais chegaram a falar em "Atentado contra a Liberdade de Imprensa". Não sei bem se encaro assim, já que as equipes de Jornalismo estavam no meio do fogo cruzado. Era natural que os bandidos reagissem com força máxima. É guerra! Acho que as contínuas coberturas de operações policiais e os coletes deram a falsa impressão de segurança. O fato é que perdemos um colega que passou para o outro lado da vida de uma forma triste e impensada para ele e para nós, mostrando que não basta amar o que se faz. É preciso ter a consciência de cada passo com a certeza da preservação do direito básico de viver. Isso por parte das empresas e dos profissionais. O presidente da ABI falou algo como "não abdicar da notícia". Eu prefiro encontrar uma solução racional para levar a informação e não abdicar da vida, nem minha e nem da minha equipe. Apesar de perseguir a melhor notícia, tentando colher as melhores imagens e informações fiéis e esclarecedoras, definitivamente não quero morrer como herói ou mártir, pois o Jornalismo se mostrou à prova de muita coisa, mas os jornalistas ainda não são à prova de bala.