terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ESTÁ NO SEU ESPELHO




       Por esses dias me peguei pensando no que deixaria de legado para o mundo e para as pessoas que amo se eu morresse hoje. E fiquei meio abestalhado com as respostas. De início não achei nada de muito interessante. Senti-me impotente diante dos problemas do planeta e fraco perante o que as pessoas realmente esperam de mim. Aí pensei: "Poxa, que legal! Não sabia que eu era tão inútil". Comecei a enxergar os meus defeitos de uma forma nunca antes imaginável. Parece que tive uma radiografia nua, crua e cruel de quem sou. Vi que perco muito tempo falando besteiras e me importando com a vida alheia. Sou ameno muitas vezes com quem não se importa comigo e estúpido com quem só quer meu bem. Constatei o irrefutável: eu não tenho disciplina! Começo e não termino, gosto e desgosto, mudo de planos facilmente.
       Procurei, então, sentido no meu trabalho. E aí me aliviei um pouco. Notei que tenho conseguido alguns êxitos no que se refere à função social que existe no que faço. Longe de ser o ideal, mas já é alguma coisa. Só que a auto-crítica estava tão forte que não me animei muito. Tentei lembrar quantas pessoas ajudei significativamente este ano; quantas vezes pus meu egoísmo de lado para privilegiar ações de favorecimento aos mais necessitados, seja de pão ou de palavra. E os índices foram baixos. E estatística não mente.
       Olhei através do espelho como nunca tinha feito em um final de ano. Para mim, esse negócio de fazer reflexão porque chegou dezembro não passa de conversa fiada. Isso tem de ser feito sempre. Ah, e lembrei que não faço quase nunca. Mas dessa vez, com Natal ou sem Papai Noel, apareceu um reflexo violento de tudo que me trouxe até aqui. E vi que preciso mudar. E muito! Não é ser aquele santinho de uma hora para outra. Isso não existe. Duvide sempre que isso acontecer. É furada! Mas falo em mudanças progressivas, continuadas, estudadas e que não parem por nada.
       Quero um amanhã melhor, um 2012, 2013, 2090...todos os anos que eu puder, cheios de sucesso em tudo o que eu alcançar. E quero ir um dia para a outra dimensão, seja ela como e onde for, com a certeza de ter feito algo bacana. Não só por uma questão religiosa. A ligação com Deus é importantíssima. Mas é para não ter estado aqui como mais um número, alguém que nasceu, comeu, cresceu, estudou, ganhou dinheiro, conheceu meia dúzia de lugares, teve filhos e morreu um dia. Meu espelho disse que isso é pouco. Posso mais e quero mais. E vou fazer história, ainda que no anonimato das minhas ações mais nobres. E tenho de correr, pois aquela conversa de que cada dia pode ser o último é verdade. Já pensou que é mesmo? Então quero chegar com uma mala pesada do lado de lá, cheia de boas histórias para contar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

QUEM SABE CAIR?



      

        Semana passada vi Neymar fazer um golaço no Mundial de Clubes diante do Kashiwa e sair batendo no peito gritando: "Eu sou foda!" Mas bastou chegar o domingo. O Santos tomou quatro gols e caiu diante do Barcelona, levando pra casa um manual de futebol. E Messi nem falou nada tão empolgado. Duvido que o craque brasileiro em formação não repense algumas coisas diante da retumbante derrota. Eu mesmo imaginava muito da vida quando tinha dezoito anos. Era arrogante na maneira de pensar o futuro. Achava que aos trinta já seria "o cara", com tudo resolvido, pois eu me achava inteligente e capaz de tudo. E este mês completei três décadas com tanto por fazer e crescer que nem sei onde foi parar minha adolescente pretensão. Na verdade, pra chegar até aqui, a historinha do "sangue, suor e lágrimas" me embalou bastante e parece que não acabou.
        Procurar vencer e ter sucesso é algo natural. Quem gosta de ser segundo ou último lugar em qualquer coisa que faça? Ninguém! Para quem gostar, a minha sugestão é a de que procure um tratamento. Existem bons psiquiatras e psicanalistas por aí. Nós precisamos de vitórias, de sentir que o que fazemos está dando certo e nos inspira uma boa perspectiva de futuro, seja lá em que âmbito da vida for. É para isso que vivemos. Ou não? Estudamos para ser "alguém na vida"; fazemos concursos para passar e ganhar um bom emprego (e para isso nem precisa ficar em primeiro); acordamos cedo, trabalhamos até tarde, namoramos, casamos, temos filhos e nos esforçamos para fazer a diferença na existência das pessoas. O tempo todo procuramos destaque. Queremos ter a satisfação de sermos protagonistas da nossa história, de não depender da sorte ou da vontade dos outros para sermos quem queremos. Perfeito!
       Só que esse modelo vitorioso simplesmente não se aplica às nossas vidas como desejamos. Tem muita gente querendo muita coisa (eu conheço uns que querem tudo). Mas não existe solução e espaço para tudo que todos querem. E por isso o destino faz com que a vitória de um seja a derrota do outro. Mundo mesquinho, né? Sim, ele é. E vai continuar sendo enquanto não entendermos o valor de uma queda. Ah, chegamos ao ponto!
      O que muitos ainda não sedimentaram em suas mentes é que as derrotas mostram quem somos. Quer saber do que você é capaz? Então identifique nos seus êxitos o seu potencial. Quer saber o que você ainda não alcança? Seus erros vão te mostrar. Quando você cai, deixa de olhar para cima e enxerga a parte de baixo, onde você realmente está com tudo o que te fez perder. Toda vez que seu trabalho é criticado, pode saber que pelo menos uma parcela daquilo é verdadeira. Quando um relacionamento dá errado, é hora de reconhecer as falhas e tentar acertar da próxima vez. Aprendemos com as derrotas. Crescemos com elas. Isso é fundamental para que saibamos fazer diferente e chegar onde queremos. E por pior que seja um fracasso, é bom lembrar que até do fundo do poço só há para onde subir. Pensando assim, não é errado dizer que toda derrota prepara uma vitória para quem sabe cair.







terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O EGOÍSTA TEM APENAS UMA CHANCE







       É interessante e ao mesmo tempo óbvio como os sentimentos nobres são todos interligados em sua essência. Quando eu era pequeno e comecei a responder aos meus pais fui severamente repreendido para não mais fazê-lo. Aprendi o que é Respeito. Essa mesma autoridade me fez entender que eu deveria colocar de volta na loja um brinquedinho que eu pegara dizendo que era meu. Não era meu e devolvi, aprendendo o que é Honestidade. A mesma honestidade com que meus pais sempre me falaram tudo o que eu deveria escutar, sem maquiar a verdade nem aliviar nas palavras, para que eu entendesse como faz bem a Sinceridade e a retidão de caráter. E como foi sincero meu avô quando me disse que era um fraco porque não quis montar um cavalo manso do sítio dele. Ele mesmo subiu no animal para me mostrar e eu acabei fazendo a mesma coisa. Dali em diante caí várias vezes, mas foi uma bela lição de Coragem que ele queria e conseguiu passar. Até hoje monto sem medo algum. Assim como não tenho medo de acordar cedo e enfrentar o mundo todos os dias, pois conheci o valor do Trabalho. E como é bom, independentemente de todos os percalços. Meu outro avô dizia que o homem tem de trabalhar como se nunca fosse morrer e viver como se fosse sempre o último dia. Essa eu ainda estou tentando incorporar.

         Depois de debulhar esse monte de ensinamentos, quero afirmar com toda ênfase possível que não sou um grande ser humano coisíssima nenhuma. Apenas tive a sorte de ter uma boa formação e ter me aproveitado dela tanto quanto minha índole permitiu, me fazendo um homem com muito mais propósitos positivos do que o contrário. Mas faltou citar uma coisa que sempre vi na minha família e em muitas que conheço. Vou usar uma pequena história. Uma vez estávamos indo para casa minha mãe e eu numa pequena caminhonete que tínhamos. E quando paramos num cruzamento havia uma senhora de idade, magra, de camiseta e saia longa e um pano na cabeça. Ela estava curvada, quase deitada no chão sentindo fortes dores em cujas regiões do corpo não me recordo. Minha mãe desceu do carro, levantou a senhora e a conduziu até o cabine. Levamos a senhora até o hospital. E de lá só saímos quando nos certificamos de que ela estava sendo atendida e estava melhor. Até hoje me lembro disso. E sabe por que lembro? Porque infelizmente não foi algo comum de se fazer. Ainda mais na minha verde cabeça de criança. E era apenas um gesto de SOLIDARIEDADE. Minha mãe se compadeceu daquela mulher, se colocou no lugar dela. Dona Paula é uma santa por causa disso? Longe de ser! Tem alguns defeitos que valha-me Deus! Assim como eu e você que está lendo. Mas ela teve a atitude de se importar e agir em favor do próximo. Meu pai me deu outros bons exemplos disso. E ele também é bem complicado, às vezes.

         O que eu quero dizer é que não precisa estar num lugar especial, com todas as condições “necessárias” para se fazer algo pelas pessoas ou pelo mundo. É nas coisas simples que você pode agir, hoje, agora. E por mais que não pareça muita coisa, para as outras pessoas pode valer muito. Aquela senhora podia ter tido complicações e morrer sem chegar ao hospital. Por que não? Eu sei lá! Muita gente doa sangue (eu até preciso fazer isso) e salva vidas. Salva, sim! Muita gente em cirurgias ou depois de acidentes precisa. Amanhã pode ser você ou eu. E o bom é que não precisa ser herói para fazer bons gestos. Precisamos apenas deixar o egoísmo de lado e nos acostumar a ser solidários.

       E SOLIDARIEDADE é questão de LÓGICA mais do que de bondade, já que não precisamos ser santos para pô-la em prática. Vamos pensar: o egoísta tem apenas uma chance de ter tudo o que ele quer do jeito que ele quer, pois o mundo pouquíssimas vezes se move para uma pessoa só. Já quando falamos no trabalho de todos para todos as possibilidades são ampliadas aos milhões. Então é muito mais fácil fazer com que um benefício apareça, pela força popular organizada, para muitas pessoas. E a organização social é um ato solidário por natureza, mesmo que não seja essa a intenção. Os benefícios conseguidos por todos vão para todos. Quando muitos doam sangue, muitos recebem sangue. Quando muitos dão um prato de comida, ninguém passa fome. Quando muitos estão dispostos a ajudar e a fazer boas políticas, não falta ajuda para quem quer que seja. Assim pensando, o egoísta que se esforça só para si ganharia mais fazendo pelo todo, pois com o que chega a todos continuadamente, no fim de determinado período será muito se comparado ao ilusório ganho vantajoso só de hoje.

       Mas para existir SOLIDARIEDADE é preciso ter ou resgatar primeiro o RESPEITO ao próximo, a HONESTIDADE de caráter, a SINCERIDADE na ajuda, a CORAGEM de agir e o TRABALHO incansável. Se não for por uma questão de amor, que seja ao menos pela LÓGICA. E uma hora, como toda lógica, essa também vai prevalecer.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O PULSO AINDA QUER PULSAR



Mãe: "Onde você estava, Mariazinha?"
Mariazinha: "Eu estava brincando de médico com Juquinha".
Mãe: "O quê???? Você vai apanhar, sua danada!"
Mariazinha: "Calma, mãe! Ele era médico do SUS, nem olhou na minha cara!"


       Quando eu tinha dezoito anos, fui acometido de uma Apendicite Aguda. Era um sábado à tarde e, quando fui levado ao hospital, estava amarelo, com olhos fundos e febre de quase quarenta graus. Tudo que ingeri coloquei pra fora naquele dia. As dores no baixo ventre eram fortes. Os sintomas se mostravam clássicos. Mas eu estava diante do SUS. O médico do plantão, um senhor com mais de sessenta anos, palpou meu abdômen e me fez gritar com as poucas forças que ainda me restavam. Não foi o bastante para ele. Disse que eu estava com alguma infecção intestinal ou coisa do tipo. Prescreveu uma injeção para a dor e me mandou tomar um soro fisiológico. Fiquei mais algumas horas na unidade de saúde e fui pra casa. Passei a noite um pouco aliviado, mas na outra manhã não aguentava nem falar. O apêndice havia se rompido e eu estava (agora sim!) com uma infecção daquelas. Voltei ao hospital. E com as devidas demoras no atendimento só fui operado por outro médico no domingo à tarde. A cirurgia, com um dia de atraso, durou uma hora a mais que o normal por causa da gravidade da situação. Escapei naquele dia. Só que menos de uma semana depois tive outra infecção no mesmo local devido à demora na primeira cirurgia. Era para eu ter sido operado no sábado, com o primeiro médico. Mas ele não achou que deveria, por imperícia ou por má-vontade mesmo. Para resumir, passei mais um mês entre hospitais, exames e curativos invasivos horripilantes até me safar de vez. Sobraram apenas as cicatrizes na barriga que tanto estimo. O médico que não fez minha cirurgia quando poderia morreu alguns anos depois.
       O tempo passou, anos passaram. Um senhor de quem gosto muito, Seu Joaquim, tem Catarata. Não enxerga muito mais que vultos hoje em dia. Ele brinca que se pela de medo de fantasmas, mas que se passar um na frente dele nem vai saber, pois vê tudo embaçado mesmo... E, como não havia outra forma, Seu Joaquim procurou o SUS para tentar fazer a correção na vista. Entrou numa fila desgraçada, daquelas que ele só não desistiu porque nessa fila você espera em casa mesmo. De preferência, sentado. E depois de muitos meses chegou o bendito dia da cirurgia. Mas não sabia o contente idoso que teria uma grande surpresa. Ele foi até o hospital na certeza de sair de lá com a visão recuperada, para voltar a ver a vida. E aquele grandioso momento foi interrompido pelo som de uma voz desafetuosa que informou que o médico não tinha comparecido ao seu plantão. E pior: como os procedimentos cirúrgicos são marcados pelas datas, e não pela vez, ele teve de marcar outra data, alguns meses à frente. Voltou para casa com sua frustração e com seus fantasmas. O principal deles, o do descaso.
       É sério o que acontece com a Saúde e com os hospitais. O HU de Campina Grande está quase fechando. Mais de duzentos funcionários estão com contratos encerrando ou em tempo de se aposentar. Amanhã ou depois vai parar de funcionar e pronto? Onde estão as autoridades? Como ficam os pacientes? Quem deixou a situação chegar a tal absurdo? É claro que muita gente foi e é salva pelas unidades do SUS e outras que também atendem pelo sistema. Mas é natural que haja, entretanto, os atendimentos a contento. Afinal, tantos hospitais, tantas verbas, tantos profissionais trabalhando. O que é duro de aceitar é a falta de HUMANIZAÇÃO. Começando por quem faz as leis. Parece que quem tem condições de ir ou levar parentes para se tratar no Albert Einstein ou no Sírio-Libanês não se importa com o que acontece com Seu Joaquim e com quem tem algo pior. E por isso não há pressa em fazer crescer a qualidade da Saúde neste país. Sem falar no disparate absurdo dos desvios de verbas públicas que deveriam salvar e melhorar vidas. Quando passamos ao que acontece nas unidades, vemos que profissionais que tratem seus pacientes com afeto é uma raridade, quando era pra ser uma regra. Afinal, são seres humanos convalescendo, sofrendo, precisando de apoio e de confiança para seguir adiante. E mais triste é ver como o tratamento muda quando chega alguém de uma classe social privilegiada. Se para cada profissão tem um juramento, na Saúde é lutar pela vida, atender e cuidar do bem maior que temos. Porque, sinceramente, é difícil ser tratado como um "Zé Ninguém" ao mesmo tempo em que somos nós mesmos que financiamos a vida de quem nos tem em tão baixa conta.





                   Letra dos anos 80 que parece feita hoje. Tudo a ver!