Estava assistindo a uma entrevista por esses dias. Era com um político importante da Paraíba. Escutava atento o raciocínio dele quando me dei conta de uma prática muito comum no meio. Eles (os políticos) se referem aos seus líderes e correligionários pelos antigos cargos que eles ocupavam. O dito cujo chamava um outro senhor de Governador, sendo que este já deixou o cargo e, pelo menos por enquanto, não tem o que fazer no Palácio da Redenção. E assim é com os outros políticos de nome que estão sem cargos no momento. É uma forma de reverenciar o ego dessas pessoas. Isso vem de uma necessidade patética de lustrar a aparência desses políticos, de bajulá-los e de dar moral a quem não está por cima; é como uma estratégia política. E quem recebe essas bajulações gosta porque eleva a auto-estima. E não se importa se vem de babões ou pessoas falsas.
Isso foi apenas um exemplo que me veio à mente, mas a influência do ego é muito profunda e em todas as direções. E chega a ser algo estapafúrdio se observarmos direito. Desde criança essa necessidade de ser importante nos persegue de forma quase ou realmente doentia. Lembro que não raras vezes eu mentia para meus amigos sobre viagens, brinquedos, aventuras. Tudo para ganhar respeito e atenção deles. E como fazia bem. Mas a gente vai crescendo e essa mania permanece, só que a brincadeira vai ficando perigosa. Maquiamos tudo o que podemos, escondemos, persuadimos enquanto pudermos para não mostrar nossos defeitos, para impor respeito. E cada palavra que dizemos tem um potencial perante os outros. Cada ato nosso é uma manifestação para o mundo que vai gerar uma reação na mesma proporção. Então, temos a obrigação de assumir quem somos. É a forma de trazer transparência para a nossa vida e começar a modificar alguma coisa, e começar a viver livremente. E qual é o problema nisso? Quem é tão mais bonito ou importante ou inteligente ou bondoso ou trabalhador ou honesto que nós? Ninguém! Todos temos habilidades, defeitos, diferenças, dons.
Uma vez um colega me disse que recebeu uma ligação de alguém muito importante depois de uma reportagem. E que a pessoa o elogiava pelo texto, as imagens colhidas, o impacto que teria o material no Estado. E era mentira, pois como num golpe do destino, dois dias depois entrevistei o cidadão citado. E ele comentou sem eu nem perguntar que fazia três dias que estava na Europa e tinha chegado naquele dia de manhã. E não sabia o que acontecia por aqui há dias. Fiquei imaginando meu colega dizendo que o cara narrou estar em frente à TV, aqui no Brasil, e que ligou no fim da reportagem. Resultado: tive pena do jornalista carente. Quis ser importante e é para alguém, só não para quem ele queria que fosse. O problema é que olhamos para o espelho e continuamos fazendo questão de enxergar algo bem maior do que está do lado de cá.
Ego: "Experiência que o indivíduo possui de si mesmo, ou concepção que faz de sua personalidade; em psicanálise, apenas a parte da pessoa em contato direto com a realidade, e cujas funções são a comprovação e a aceitação dessa realidade".
(Dicionário Michaelis)