terça-feira, 24 de janeiro de 2012

ESCOLA DO MUNDO REAL





Logo que aprendi a ler, alguns dos livros que encontrei lá em casa tinham escritos nas capas: "Moral e Cívica" e "OSPB" (Organização Social e Política do Brasil). Foram do meu pai e dos meus tios. Eram tipos de manuais que definiam "o modo de ser específico e a fisionomia de nossa cultura". Eles diziam como deveríamos nos comportar e amar o Brasil. Nasceram durante o Regime Militar. E bem antes da Redemocratização, o material já era considerado propaganda da Ditadura, ferramenta de controle social. Na década de 90 o que tinha na minha escola era um suposto correspondente dessas disciplinas, com o nome de "Cidadania".

Nas aulas eram fortalecidos os conceitos mais básicos de ética e moral e coisas do tipo. Discutíamos os assuntos de acordo com a nossa ainda imatura visão da realidade. Mas eu gostava. Só que hoje vejo que era algo tão elementar. E tenho certeza de que eu suportaria um conteúdo mais denso, discussões mais ricas e desafiadoras, trabalhando com a efervescência real do mundo em que vivíamos. Seria bom para o meu desempenho intelectual e minha consciência global dos acontecimentos.

Contudo, as realidades atualmente se multiplicam. A influência da mídia, das redes sociais, os conceitos de amor, família, ética, moral, religiosidade. Tudo assume caráter forte ou efêmero de uma hora para outra nessa dinâmica. Como educar em um mundo assim? Em um Brasil assim? Existem grandes questões nacionais a serem debatidas com as crianças e adolescentes. Sim, com elas! Não dizem que são o futuro? E são! Pois que sejam e tragam um bom futuro. Precisam se interessar e entender de Política. É nela que se definem os rumos do mundo e o que chega ao destinatário final de todos os serviços e verbas públicas: o povo. Como não dar ênfase e não se importar com isso? Precisa-se transformar os cálculos de matemática em pensamentos sobre a Economia, seja ela do lar, nacional ou mundial. Quem vive em uma nação rica tem de entender de inflação, de superávit primário, dos efeitos dos gastos públicos e privados.

E como deixar de colocar como obrigatoriedade (pelo menos no Ensino Médio) estudar as várias disciplinas do Direito? Direito Administrativo fala sobre a legalidade na coisa pública, tão ferida neste país. Direito Penal faz o cidadão refletir desde cedo sobre o que pode lhe acontecer se ingressar no mundo do crime. Já o Direito Constitucional informa sobre as garantias fundamentais, como a vida, a liberdade, a propriedade. São conceitos primordiais da ordem e progresso que existem estampadas na bandeira e que ainda são fragmentados no dia-a-dia. 

Parece utopia pensar tudo isso onde a corrupção tira até a merenda escolar. Quem liga para Ética e Moral assim? Mas até a corrupção é um produto da ignorância. Quem não tem sequer noção do quanto é bom ser honesto não vai praticar isso. A Educação ensina, liberta e levanta um país. Entretanto, esse formato está restrito aos melhores e caros colégios. Vejo a nossa Educação Pública como um carro de corrida, cheio de equipamentos e ferramentas a serem usadas; com um grande e potente motor e pronto para pegar a estrada e acelerar a todo vapor para assumir a ponta. O problema é que ele não recebe o combustível correto e suficiente. E não tem pilotos criativos, de caráter e experientes o bastante para fazer a máquina dar o melhor de si. O reflexo é a sociedade que temos e os problemas sociais de que tanto reclamamos.

2 comentários:

  1. Muito bom o texto, Plínio, como sempre. Tudo no nosso país quando não é 8 é 80. Quando não temos uma educação repressora temos uma liberal demais, mas sempre voltada a antender interesses de minorias. Infelizmente, uma boa educação formal ainda é privilégio de poucos. Mas, continuemos sendo otimistas né!? Abraço

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    1. Sim, o trabalho deve ser permanente, ainda que ao estilo da formiga. Se com todos os esforços eivados estamos nesta situação, imagine se não acreditarmos mais.

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