Eu tinha um tema oportuno e interessante para tratar nesta postagem do Argumentu. Mas um acidente de percurso me fez protelar as linhas do referido assunto, que foi atropelado por fatos novos ocorridos hoje nas minhas andanças jornalísticas. Primeiro que o dia começou com a notícia de que eu iria até a cidade de Boa Vista, no Cariri do Estado, para mostrar que, pela terceira vez este ano, a pequena agência do Bradesco havia sido explodida por bandidos especializados em roubos a caixas eletrônicos. Parecia notícia repetida, mas com uma pequena diferença. Nesta oportunidade, os "Amigos do Ilícito" (como diria um delegado das antigas) não conseguiram levar o dinheiro. Ficou tudo destruído, menos o invólucro metálico onde as disputadas notas se encontravam. Mostramos os estragos e escutamos a população, já acostumada a se acordar de madrugada com estrondos repentinos. Pra variar, os ladrões fugiram e até agora e amanhã e depois e depois não vão ser encontrados.
Por um momento, minha mente retomou o impulso cidadão de pensar imediatamente o porquê dessas coisas acontecerem. Os jornalistas quase sempre sublimam isso e se preocupam primeiro em apurar e contar os fatos em detalhes e publicá-los. Até porque é isso que tem de fazer e o tempo para tal é curto. As discussões filosóficas que não façam parte da feitura da reportagem ficam para outro momento. Mas hoje foi diferente. Pensei durante todo o processo: "Porque esses caras vivem assim? Como aguentam essa vida de gato e rato com a Polícia, presídio, matar, morrer, etc...?" Por que cargas d´água não procuram outra forma de existir? Sei que muitos não estão nem aí pra nada; o que vier é lucro. Mas tive esse breve lampejo. Aconteceu. E eis que meus pensamentos sobre isso estavam só começando. Logo que voltei para Campina Grande, a Redação me liga narrando um assalto à agência dos Correios de Lagoa Seca. Aquela velha e manjada história: duas pessoas de moto, uma desce armada, rende todo mundo e leva o dinheiro. E "a Polícia ainda não tem pistas dos assaltantes". Mas eu estava redonda ou quadradamente ou absurdamente enganado. Era um caso que me deixaria perplexo, como raramente fica quem já viu quase tudo fazendo matéria. Isso porque dois personagens chamaram atenção. Primeiro a pessoa que dirigia a moto do assalto. Era uma jovem de 19 anos, de Campina. E (pasmem!) estudante do curso de Engenharia de Petróleo da UFCG. É uma das áreas mais promissoras do futuro e porque não dizer do agora, já que o Pré-Sal e outros investimentos petrolíferos no Brasil rendem bilhões e renderão muito mais. Daí depreende-se que a moça, que está em uma universidade federal, fez um vestibular e ganhou uma vaga no ensino público, sonho de muita gente. Teve OPORTUNIDADE! Eu, abestalhado: "O que é que uma infeliz dessas tá fazendo assaltando por aí?!" Detalhe: o comparsa é o irmão dela, sete anos mais velho. E agora, a pior parte: ela acusa o próprio gerente dos Correios da cidade de ter planejado o assalto. Ele teria passado, nesta e em outras vezes, as informações aos bandidos sobre a chegada do dinheiro, os horários, os valores e como seria mais fácil assaltar a agência de Lagoa Seca e de outras cidades vizinhas. Presa, encrencada e com futuro incerto (diferente de quando só estudava o petróleo), a jovem foi perguntada por um agente se faria assaltos de novo. E respondeu, na minha frente, que "depende do que ela passar na cadeia". Fiquei besta de novo! E revoltado!
Isso me fez concluir algo que os especialistas já devem ter estudado, pensado e repensado enquanto eu nadava em outras teorias. A falta de oportunidades NÃO é responsável pela imoralidade do ser humano. Antes dizia-se que a pobreza fazia as pessoas tomarem o caminho do crime. E agora? Se no nosso país ainda não acabamos com este mal, pelo menos as coisas mudaram muito. A Indústria da Construção Civil está sem mão-de-obra. Faltam até ajudantes de pedreiro. Outras tantas áreas sofrem para contratar até para cargos de nível médio e fundamental. E aí? Alguém tente me dar uma desculpa para enveredar pelo caminho do crime. Se para mim não existia antes, agora menos ainda. O dicionário Aurélio define MORAL como o "conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada". Neste estado e neste país o que mais falta hoje é consciência. Falta Educação, faltam políticas públicas de Inclusão Social, faltam famílias que cuidem dos seus filhos. Enfim, falta MORAL, o conjunto de coisas que a mim e a muitos brasileiros honestos nos fazem viver procurando o Bem e de forma digna, única e exclusivamente com cada gota do nosso valioso suor.