terça-feira, 17 de janeiro de 2012

AMOR DE PAPEL




       No primeiro dia do ano fui a Juazeirinho para cobrir uma tragédia que ainda marca a cidade. Um dos empresários mais bem-sucedidos da região havia matado a esposa e depois atirado contra a própria cabeça. Os moradores contam que ele tinha personalidade tranquila, pouco aparecia. Era gentil e discreto. Ela, mais despojada. "Nem parecia ser rica", afirma a população de lá. As investigações continuam, mas as famílias acreditam que uma separação mal resolvida teria causado o desfecho infeliz. A fortuna tinha destino incerto. Entretanto, o que o homem jovem de 39 anos não suportava não era isso. E sim a ideia de perder sua amada. Segundo a Perícia, depois de matá-la no escritório, ele passou duas horas olhando o corpo da mãe de suas duas filhinhas pequenas. Até que se matou, completando o cenário de horror.
      Na última semana, uma jovem de 21 anos foi encontrada morta na casa onde morava, no bairro das Malvinas, em Campina Grande. Ela era casada com um funcionário público da UFCG e lutador de Jiu-Jitsu. O marido conta que achou a esposa morta com uma corda amarrada no pescoço. Mas a Perícia detectou que o nó era do tipo "marinheiro", algo que o próprio marido afirmou que a moça não saberia fazer. O quarto estava bagunçado e ela tinha arranhões, além de as marcas no pescoço serem de esganamento, e não de enforcamento. Nas unhas da vítima havia restos de pele humana. Ou seja, para os peritos, ela tentou se defender, brigou antes de morrer, foi assassinada e não suicida. O consternado marido foi preso ainda no velório acusado de tê-la matado e depois forjado um suicídio. Ele fez exame de DNA, que vai comprovar se é dele a pele encontrada nas unhas dela. A Polícia, contudo, não tem dúvidas da autoria do crime.
    E não se passaram muitos dias mais desse mês de janeiro para que pudéssemos chegar ao caso do reality show mais famoso do país, quando um participante teria estuprado uma moça. Isso porque ela estaria inconsciente no momento em que o rapaz usou o corpo dela depois de uma festa regada a muita bebida. E a polêmica está aí. É só disso que se fala, já não aguento mais.
      E o que é que esses casos têm em comum? Uma fator, basicamente: a influência do sexo. Em Juazeirinho, informações da rua diziam que o empresário teria visto a mulher com outra pessoa. Não aceitava o fim do relacionamento e menos ainda dessa forma, com outra pessoa na jogada. No caso do lutador de Jiu-Jitsu, um familiar dele me disse que na época em que ele conheceu a moça, era só "curtição". Mas ela engravidou e ele não quis ver o filho sendo criado por outra pessoa. Por isso, casou. Na casa mais famosa do Brasil, o sexo também rola e rolou sempre. É a primeira coisa que se pensa em fazer. As consequências não importam nessa hora. Até que chegamos a esse ponto.
      Estamos minimizando a importância da sexualidade. As pessoas não sabem como exercê-la. Transam sem critérios, acabam se comprometendo sem haver afeto na relação. E assim casam, convivem. Mas depois não vivem. E que bom quando o saldo é apenas uma separação. Mas e quando existem filhos, como eles ficam e com quem ficam? Com que referências vão crescer? E as doenças sexualmente transmissíveis? E se for AIDS? E se você é flagrado por uma câmera e passar vergonha nacional estuprando uma mulher bêbada que dorme? E se você acabar matando a companheira, o companheiro? E se o remorso fizer você se matar?
     Fico me perguntando o que está na cabeça de quem diz que ama. Que tipo de amor será esse? A inexperiência e os costumes (ou maus costumes) da nossa sociedade provocam  o aparecimento de relacionamentos efêmeros e a busca desenfreada pelo prazer sexual. Não há comprometimento, responsabilidade e perspectiva de futuro. As traições acabam com famílias, degradam essa célula mais importante da vida. É o Carpe Diem à solta que nasce do sexo, volta pro sexo e morre no sexo. E algo que deveria ser o exercício sublime do amor real vira o destaque triste das páginas policiais ou ficam no anonimato, mas corroendo a alma dos que alimentam esse amor de mentira.

5 comentários:

  1. Digamos que a sociedade evoluiu, pra pior, é claro! O que acontece é que com o tempo os valores foram se perdendo, as pessoas foram se perdendo. E o que encontramos hoje? Uma sociedade que vive o agora e nao pensa no futuro. PQ? Pra que pensar no futuro, se o agora tá bom?! É com essas ideias que os fracassos de casamentos, famílias e etc estão cada vez mais pertinentes. Ora, e tudo se origina da educação: se um filho vê os pais brigando, pq um tem outra pessoa, ele vai aprendendo que o amor não existe. Cresce fazendo o mesmo. Um outro fator são as decepções amorosas que faz com que as pessoas parem de amar de verdade e só se aproveitem de outras. Por fim, o prazer carnal mesmo! O povo quer saciar a carne e nao se importa com as consequências.
    Acho que o povo tá escutando demais a música de Rita Lee, AMor e Sexo.

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  2. Concordo plenamente, mas como vc sabe a própria mídia tem propagado outro tipo de ideia e muitas crianças e adolescentes que são educados pela tv exercem este comportamento errôneo das novelas e etc, malhação por exemplo, que em um episódio revelou na fala de um personagem..."é extremante ruim ser virgem e que a família na verdade só serve prá encher o saco" ( isto dito por um mocinho).

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  3. Também acho que a problemática vem da base, da criação, da formação do caráter e da índole em si. E acho que a sexualidade e as suas consequências boas e ruins devem ser bem discutidas durante a infância, nas escolas, com professores bem orientados. A família tem papel mais fundamental ainda, uma vez que é nela que se formam todos os valores que vão nortear as atitudes do ser humano.

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  4. Parabéns Plínio pelas colocações em seu texto gostei muito.Como você mencionou. A família tem o papel fundamental, é nela que se formam todos os valores que vão nortear as atitudes do ser humano.Muito bem PARABÉNS!!!De: Nirinha Bento.

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  5. A realidade bate a nossas portas e ainda não queremos abrir, para não ver aquilo que já se era esperado! O mundo hoje em dia é constituído pelo sexo. Acho ridículo quando minhas "amigas" falam: "Ai eu TREPEI com fulano foi bom viss mais num foi nada serio não!" Eu acho ridículo isso! Por mim voltaríamos a uns 50 anos atrás que para se transar precisava casar! Era algo tão mais romântico aquela expectativa de se relacionar algo novo e tal! Mais hoje só Jesus! M.A.

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