Por esses dias me peguei pensando no que deixaria de legado para o mundo e para as pessoas que amo se eu morresse hoje. E fiquei meio abestalhado com as respostas. De início não achei nada de muito interessante. Senti-me impotente diante dos problemas do planeta e fraco perante o que as pessoas realmente esperam de mim. Aí pensei: "Poxa, que legal! Não sabia que eu era tão inútil". Comecei a enxergar os meus defeitos de uma forma nunca antes imaginável. Parece que tive uma radiografia nua, crua e cruel de quem sou. Vi que perco muito tempo falando besteiras e me importando com a vida alheia. Sou ameno muitas vezes com quem não se importa comigo e estúpido com quem só quer meu bem. Constatei o irrefutável: eu não tenho disciplina! Começo e não termino, gosto e desgosto, mudo de planos facilmente.
Procurei, então, sentido no meu trabalho. E aí me aliviei um pouco. Notei que tenho conseguido alguns êxitos no que se refere à função social que existe no que faço. Longe de ser o ideal, mas já é alguma coisa. Só que a auto-crítica estava tão forte que não me animei muito. Tentei lembrar quantas pessoas ajudei significativamente este ano; quantas vezes pus meu egoísmo de lado para privilegiar ações de favorecimento aos mais necessitados, seja de pão ou de palavra. E os índices foram baixos. E estatística não mente.
Olhei através do espelho como nunca tinha feito em um final de ano. Para mim, esse negócio de fazer reflexão porque chegou dezembro não passa de conversa fiada. Isso tem de ser feito sempre. Ah, e lembrei que não faço quase nunca. Mas dessa vez, com Natal ou sem Papai Noel, apareceu um reflexo violento de tudo que me trouxe até aqui. E vi que preciso mudar. E muito! Não é ser aquele santinho de uma hora para outra. Isso não existe. Duvide sempre que isso acontecer. É furada! Mas falo em mudanças progressivas, continuadas, estudadas e que não parem por nada.
Quero um amanhã melhor, um 2012, 2013, 2090...todos os anos que eu puder, cheios de sucesso em tudo o que eu alcançar. E quero ir um dia para a outra dimensão, seja ela como e onde for, com a certeza de ter feito algo bacana. Não só por uma questão religiosa. A ligação com Deus é importantíssima. Mas é para não ter estado aqui como mais um número, alguém que nasceu, comeu, cresceu, estudou, ganhou dinheiro, conheceu meia dúzia de lugares, teve filhos e morreu um dia. Meu espelho disse que isso é pouco. Posso mais e quero mais. E vou fazer história, ainda que no anonimato das minhas ações mais nobres. E tenho de correr, pois aquela conversa de que cada dia pode ser o último é verdade. Já pensou que é mesmo? Então quero chegar com uma mala pesada do lado de lá, cheia de boas histórias para contar.